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Os culpados pela queda de 4,53% do Ibov no 1º tri e o que esperar agora

por Roberto Ribeiro

O Ibovespa fechou o primeiro trimestre de 2024 com uma queda de 4,53%, aos 128.106,10 pontos. O resultado cai como um balde de água fria nas perspectivas otimistas que o mercado mantinha para o período desde a virada do ano. Por trás do desempenho morno do principal índice de ações da B3, estão as surpresas com a política monetária dos EUA e os riscos políticos no cenário doméstico.

No ano passado, grande parte do mercado acreditava que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) começaria a fazer cortes na taxa de juros do país ainda nestes primeiros três meses do ano. A queda dos “fed funds”, junto com os cortes já contratados na taxa básica de juros do Brasil, a Selic, gerariam um ambiente favorável para a renda variável.

Contudo, apenas a diminuição da Selic se concretizou – a taxa iniciou o ano em 11,75% ao ano e agora está em 10,75%, após duas reuniões do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom). Já o Fed, surpreendido por dados de inflação e atividade mais fortes do que o esperado na economia americana, não mexeu nas taxas de juros, que se mantiveram entre 5,25% e 5,5% ao ano.

A diminuição da diferença entre a Selic e o juro americano prejudica a Bolsa brasileira, já que os investidores estrangeiros ficam mais inclinados a alocar recursos na renda fixa dos EUA. Até a última terça-feira (26), os gringos retiraram R$ 22,5 bilhões da B3. “A política monetária aplicada nos EUA afeta a economia do mundo todo, tendo um impacto ainda mais relevante em países emergentes, como o Brasil”, afirma Pedro Accorsi, analista da Benndorf Research e Accorsi Investing.

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Eduardo Grübler, gestor sistemático na AMW, gestora da Warren Investimentos, também vê um movimento de realização de lucros pelo investidor estrangeiro, que lucrou com a alta de 20% da Bolsa brasileira entre novembro e dezembro do ano passado e agora embolsa os ganhos. “A nossa Bolsa, dado o tamanho dela dentro do mercado global, ainda é muito dependente desse fluxo externo”, diz.

Essa também é a visão da Guide Investimentos. “Apesar dos recordes nas bolsas internacionais, o Ibovespa teve desempenho fraco no primeiro trimestre do ano. Em nossa visão, isso está associado à perspectivas de menos cortes de juros nos EUA e resgates de investidores estrangeiros, que pressionaram o mercado local.

Nem toda a queda da Ibovespa é culpa do Fed

Fora a pressão provocada pela saída de fluxo estrangeiro da Bolsa, no cenário doméstico, as sinalizações dadas pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva também desagradaram. A Petrobras (PETR3; PETR4) e a Vale (VALE3), as duas ações com o maior peso do Ibovespa, sofreram por ruídos de ordem política. A PETR4 fechou o trimestre quase no zero a zero, com uma leve alta de 0,32%, enquanto VALE3 desabou 17,67% no período. Juntas, as empresas equivalem a uma fatia superior a 23% do índice e ambas foram impactadas, principalmente, por ruídos de ordem política.

Os papéis da Petrobras desabaram 10,37% no pregão de 8 de março após a petroleira anunciar que não pagaria dividendos extraordinários, apenas o mínimo estipulado pela Política de Remuneração aos Acionistas. O represamento de R$ 43,9 bilhões azedou o humor dos investidores, que apontaram interferência da União na decisão. As declarações do presidente Lula em entrevista ao SBT Brasil só intensificaram as discussões, como pode ser visto aqui

Já na Vale, foram as discussões sobre a sucessão do CEO Eduardo Bartolomeo que preocuparam os investidores. Em janeiro, correram rumores de que o governo tentava emplacar o ex-ministro de Dilma Rousseff (PT), Guido Mantega, para o cargo. Os temores de interferência política em uma empresa não-estatal, penalizaram as ações.

Em 8 de março, a mineradora divulgou a extensão do mandato de Bartolomeo por mais sete meses, de 31 de maio para 31 de dezembro deste ano, assim como a contratação uma empresa internacional para fazer a sucessão. Entretanto, os temores de pressão política continuam. Em 11 de março, José Luciano Duarte Penido, membro do Conselho de Administração da Vale, apresentou a sua renúncia e, em carta, apontou manipulação do processo sucessório para o cargo de CEO. “Não atende ao melhor interesse da empresa, e sofre evidente e nefasta influência política”, disse Penido.

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Para Danielle Lopes, sócia e analista de Ações da Nord Research, os ruídos políticos são as principais causas para a performance negativa do Ibovespa. “Tivemos bancos e commodities segurando o Ibovespa. Os bancos ficaram relativamente estáveis. Em contrapartida, as ações que possuem mais peso no setor de commodities, Petrobras e Vale, caíram”, afirma. “E Petrobras e Vale caíram pouco em função dos resultados e muito em função da ingerência política”, afirma.

Grübler, gestor sistemático na AMW, também apontou o fator “ingerência política” como uma dos gatilhos que esmoreceu o Ibovespa no período. “Essa incerteza extra, certamente, afasta os investidores estrangeiros e locais da nossa Bolsa”, diz.

Apesar das quedas de Petrobras e Vale terem impacto significativo no Ibovespa, as empresas não lideraram a ponta negativa do índice. Dos 86 papéis que compõem o Ibovespa, 57 estão negativos neste 1º trimestre do ano. As ações que registraram as maiores desvalorizações foram Casas Bahia (BHIA3), Cogna (COGN3) e CSN Mineração (CMIN3), com variação de -40,42%, -32,38% e -31,70%, respectivamente. Já as maiores valorizações foram registradas por Embraer (EMBR3), 3R Petroleum (RRRP3) e Braskem (BRKM5), com retornos de 48,77%, 25,53% e 20,77%.

Um segundo trimestre melhor para a Bolsa?

No ano passado, o Ibovespa também fechou o trimestre em queda, de 7,16%. Já no período seguinte, o indicador esboçou uma grande recuperação e acumulou alta de 15,91%, conforme dados levantados por Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta. Contudo, não devemos ver um “repeteco” dessa dinâmica este ano, segundo Lopes, da Nord.

“Para o IBOV deslanchar, precisaria de uma virada de mão da parte do governo. Ou seja, que a União deixe as empresas agirem de forma independente”, afirma Lopes. “Isso teria que parar, o que nos parece cada vez mais improvável”, diz. Ainda assim, ela vê oportunidades em empresas fora do Ibov e dos holofotes do mercado, como a companhia de facilities e segurança do trabalho GPS (GGPS3).

Dentro do Ibovespa, a preferência fica com as petroleiras menores, as chamadas Junior Oils, como 3R (RRRP3), Prio (PRIO3), PetroReconcavo (RECV3) e bancos, como Bradesco, BTG, Inter e Itaú.

Já Accorsi, da Benndorf Research, e Grübler, da AMW, enxergam uma conjuntura mais atrativa. Os efeitos dos juros mais baixos no Brasil devem começar a ser sentidos com mais intensidade durante o segundo trimestre, segundo Accorsi, o que melhora o consumo e aumenta a propensão a risco por parte dos investidores.

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Além disso, ainda há a expectativa de uma desaceleração na economia norte-americana – pavimentando o caminho para o início dos cortes de juros nos EUA. “A expectativa é, sem dúvida, positiva”, afirma Accorsi, que tem preferência por empresas mais “amassadas” e pouco óbvias, como Cambuci (CAMB3), Enauta (ENAT3) e Moura Dubeux (MDNE3).

Grübler acredita que as quedas em Petrobras e Vale já demonstraram ao governo o efeito destrutivo de interferências e que a maior parte do movimento de realização de lucros pelos investidores estrangeiros já ocorreu.

“Chega certos momentos em que a Bolsa está barata o suficiente e o estrangeiro entra, mesmo com uma incerteza razoável”, afirma o gestor da AMW. “Dado o desconto causado pela underperformance (equivalente à venda) que a gente teve no primeiro trimestre, isso pode trazer um fluxo do estrangeiro de volta para cá. E, por consequência, mexer a nossa bolsa de uma maneira bastante positiva.”

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